Contagem Regressiva

Ao pôr para rodar o meu CD remasterizado do Megadeth - Countdown to Extinction, a primeira faixa Skin o' My Teeth abre o disco e lança minhas memórias à garota baixinha, em sua bermuda xadrez alcançado os joelhos e a peita da banda Metallica. Claudinha me enchia os ouvidos com histórias sobre metaleiragens saidas de sua boquinha pequeninha e inventiva para casos jamais acontecidos. De certo, ria-se na minha ausência. Ela e seus parças das noites de fins de semana nos clubes noturnos, onde fervia a pirralhada na primeira metade dos 90’s. Em um deles, na alegria da presença de Claudinha, recebi um empurrão áspero em uma ímpeto de a tomar em meus braços. Passei a ver ela sempre de longe, no colégio, clubes e nas quermesses promovidas pela igreja, quando bandas de Heavy Metal locais dividiam o palco com atrações paroquiais.

Foi o de menos. Espero de claudinha algum amadurecimento, interesses menos juvenis dos que os meus e uma vida interessante… só não espero uma mudança em sua estatura. De todo modo, depois veio Eliane. Relembrada hoje pelo mesmo disco, o do Megadeth da Claudinha. Percebi Eliane em um banco do colégio, folheando revistas sobre Rock e Heavy Metal enquanto aguardava iniciar os períodos. Meu interesse despertou ao ver virar uma página impressa com uma arte que reconheci como sendo de Simon Bisley (um desenhista que eu admiro). Provavelmente, usar esse assunto para abordar a menina não despertou nela qualquer interesse. Ela era leiga sobre desenho e HQs.

Eliane tinha a pele morena tostadinha, nariz arrebitado e lábios bonitos. Seu cheiro era de morango artificial. Depois de nos encontrarmos nos corredores algumas vezes, as tirações de sarro vieram… só agora sei do que se tratavam. Eram da minha ingenuidade. Encomendei uma fita cassete com Countdown to Extinction em uma loja de discos ali do calçadão nos arredores do terminal de ônibus. A finalidade era bem clara. Eu iria presentear Eliane - ela ficaria feliz, ainda mais interessada na minha presença e talvez até faria mais piadas. Vencendo a timidez, entreguei a fita. Em vez de demonstrar gratidão, a moça fez alguns comentários depreciativos.

Você convidaria uma moça a assistir Drácula de Bram Stoker no cinema por estar afim dela? Em minha concepção é um programa à altura. Se eu gostar e tiver a absoluta certeza de não se tratar de uma mulher comprometida, eu a convido. Drácula é minha maior referência de encontro romântico desde a invenção do Cinema… ou desde as produções dos anos 90’s. Naquele mês, o filme estava em cartaz na sala de exibição do shopping em frente ao chafariz. Discar um número de telefone e falar com Elaine foi, para mim, a comprovação de como existe a possibilidade de se ter duas sensações distintas em um único ato: aflição e felicidade. O telefone em mãos, um convite quase que decorado e… uma resposta afirmativa.

Experimentei um momento de grande euforia. A vontade era a de… ouvir Megadeth. Com o “sim” de Elaine, imaginei a pegando na mão dentro da sala escura do cinema. Tocar seus seios e no fim, conseguir um beijo. Nada além disso, minha fantasia mais ousada era aquela. O apogeu de um encontro perfeito, a maior satisfação amorosa já vivida com uma menina amada. Tendo esses planos muito bem premeditados, vesti-me a caráter. A camiseta com a estampa do Napalm Death novinha, a bermuda recém comprada, perfumes, escovações de dentes intermináveis. E me dirigi ao centro da cidade onde estava o shopping e subi ao terceiro andar. Os funcionários do cinema estavam de prontidão para exibir o Drácula e ele prestes a testemunhar meus momentos de júbilo junto à Elaine.

O filme estava a poucos momentos de começar e eu esperava Elaine na portaria. O filme começou. Chegou à metade… Encerrou. Todos saíram da sessão e eu… ainda estou esperando.

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