Atuamos segundo nos falaram para atuar. Entrarmos no palco diariamente não pode ser evitado. Nossos scripts estão em branco, mas somos empurrados à ribalta.
- Sou a Olívia, a manicure. Sei de cada coisa!
- Oi, me chamo Francisco, o motorista. Amigo do pessoal da vila.
Transitando entre espetáculos, também podemos nos acomodar em outras plateias. Em uma delas, vi um ventríloquo. Ambas as mãos vestidas por fantoches. Eles trocam ofensas e cospem um no outro. O ódio entre os bonecos faz o público vibrar.
- O da direita parece mais sensato. Vamos sovar os que discordam!
- Mas e o da esquerda? Também tem uma certa razão… Morte aos contrários... esses desgraçados!
Na vida há bastidores. Temos a presunção de sermos senhores de nossos destinos. Só admitimos a predestinação por parte de Deus, apenas a essa. Mas os diretores da peça são muitos.
- Diretor, acha que o Marcos deve se envolver com Maria?
- Seria conveniente ele encontrar Helena até lá.
- Quem vai ganhar aquela batalha judicial? Adolfo, ou Nestor?
- Esse vai depender. Vamos esperar.
- O Ezequiel vai pegar aquele emprego?
- Antes ele vai ter que passar por uma sapataria.
O mundo real é assim: cada um puxa a sardinha para a sua brasa. Já pensou se quem postula o Poder estivesse realmente preocupado com o bem comum? E o mais assustador: com o bem individual?
Todos os dias, mentes são cooptadas. Jovens, velhos, crianças. Ideais de mundos, ideais de sociedade, sempre aquilo... algum ideal… nunca a se realizar.
Comemos o pão, assistimos ao circo. Distraímo-nos com o figurino e o cenário.
Dentre as vaias e os tomates podres, até mesmo os grandes nomes erram as falas.
Cada um de nós é uma peça, uma dramatização dentro de três paredes. Até o dia em que as…
…as cortinas vermelhas fecharem e fazermos a última mensura ao nosso tempo em gratidão por nos ter suportado.