Esses versos foram escritos dentre uma crise de distúrbio de sono e exaustivas rotinas de trabalho.
Interminável Noitada
Faltava parte de sua alma
e você queria mais estrada.
Se esforçando para parecer calma,
Naquela interminável noitada.
Todos tentavam esconder,
o que todos já estavam sabendo.
O temor te fazia empalidecer,
se não morreu já estava morrendo.
Façamos do Medo a nossa aliança
e ele tornará tudo mais seguro.
Tratando da sombra com desconfiança,
poderemos dormir no escuro.
O neon tremeluzia gelado
e luzes negras luminescentes.
O branco do teu olhar esguelhado
no sorriso nervoso, os teus dentes.
Segredos correm de bocas a ouvidos,
sob o casaco, há sempre um punhal.
Pensamentos que também podem lidos,
cuidado: há quem te queira o mal.
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Cortinas
Feche agora essas cortinas!
Ou entrarão pesadelos invasores,
atraídos por nossos horrores.
Não será pelo pólen das flores,
nem por beleza, nem por cores,
A ferida do coração supurou,
o romance que se avinagrou,
o mundo inteiro mudou,
e Deus não sabe quem sou.
Feche agora essas cortinas!
Alguém pode estar espionando,
do outro lado tem gente falando,
que sabe tudo o que estou pensando.
Diga aonde, porquê e quando,
neste momento estou te ligando.
No celular, a tua voz, tua fala,
não posso falar, mas é você quem cala.
Acabei de arrumar minha mala,
Há um espírito na sala.
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Martírio
As suturas de meus cortes,
agora estão com mais pontos.
Têm cicatrizes os mais fortes,
para a morte, já estão prontos.
Dos estigmas do meu coração,
desabrocham rosas vermelhas.
As pétalas cobrem o chão,
como há farpas nessas roseiras!
Não posso culpar a inocência,
ainda que o paradoxo seja belo.
A dor pura percorre a essência,
é o prego, a madeira e o martelo.
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Escória
Nesse cruel canto de glória.
Não sobrará um pra contar história.
Mastigo um rancor em minha memória.
Não tenho moral, eu sou a escória.
A própria morte mandou um aviso.
Perigo ir para o chão que piso.
As penas do corvo eu aliso.
A caveira me encara e dá um sorriso.
A sua dança bela e sensual.
Cortejo tal um doente mental.
Somos a escória, não me leve a mal.
Lá vem o vento gelado.
E o imbecil de amor forçado,
por todos será acusado,
e merece ser assassinado,
a morte do mais desonrado.
Desmerece até de ser velado
e nem a mãe por ele ter chorado.
Pior do que fosse linchado,
pelo inferno que seja levado.
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Não Voltar
Dirigi sem chegar,
sem pensar em voltar.
Eu não quero voltar.
Eu odiaria retornar!
Eu só preciso ser espírito,
Chapado poeta lírico.
Prostituta ou moça pra casar.
Que se foda. Tudo, menos voltar!
Dirigi por horas em direção da morte.
A estrada acaba à própria sorte.
Eu quis rir, mas fui chorar.
Me deixe continuar!
Deixo que me persigam.
Quero chorar mas eles não ligam.
Podem espionar minha vida.
Há sempre uma poesia para ser lida.
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Sensualmente
Tenho centenas de máscaras,
para uma só face.
Sublimar várias taras,
Com algo que eu amasse.
O mais puro amor,
violento ataque ao pudor.
Violentado pelo o que me opor,
Não há alívio ao temor.
Só acontece na mente,
é a imaginação que sente.
Não esqueci,
por mais que eu tente.
Sensual a tudo
o que é atraente.
Lave as mãos por mim,
e pelo belo Querubim.
O aroma do carmim,
deitado em nuvens de cetim.
Lábios, peles, o fim.
Dos olhos, o puro branco
- Pequeno flanco.
Unidos em encanto.
Das pracinhas e no banco.
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Meus Sonhos Lúcidos
As Pessoas Silhueta,
povoam meus sonhos lúcidos.
A janela pra lá é estreita,
não olho pros meus pulsos.
Fazem parte de uma seita,
povoando meus sonhos lúcidos.
Trazem temor, ou pesadelos,
acordo cheio de medos.
Vou cortar os cabelos,
minhas mãos não têm dedos.
Vejo sigilos e selos,
Trazem paranoias e pesadelos.
As piores e não dormidas,
acordadas noites seguidas.
Vou tratar minhas feridas,
dessa e de outras vidas.
Páginas não lidas,
De pesadelos sem saídas.
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Sussurros
Bom comportamento,
é assim que me apresento.
Sigo o meu coração,
mas não a limitação.
Ouça o canto,
de um Espírito Santo.
Canto com ele em rima
e eu olho para cima.
Nos cantos da sala,
vem uma fala.
Dentro da mente,
o sol está ausente.
O diabo tem sabido,
tudo oque tenho pedido.
A vela derretendo,
eu sei e estou arrependido.
A presença atrás de mim,
partes de uma missa em latim.
A vela e o incenso,
O sutil se torna denso.
Surto com palavras e fracassos.
Pequenas fendas nos braços
- riscos no chão, traçados e traços.
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Agouros e Sinais
Subindo pela escada,
minha dúvida sagrada.
Na interminável noitada,
a lembrança inesperada.
Buracos mudam de lugar,
na cabeça tentando pensar.
Tento raciocinar,
algo quer me levar.
É mais um domingo,
penso em suicídio, sorrindo.
O chão se abrindo,
o espelho não está refletindo.
Fecho todas as cortinas,
há sangue em minhas narinas.
Risadas de três meninas,
Seus agouros e as sinas.
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Sagrada
Nós em minhas asas,
nos calcanhares, mais travas.
Febril busco na madrugada,
a linda criatura alada.
Esfolo os pulsos com lâminas cegas,
atrás de mim estão as trevas.
Uma delas me prometeu,
uma noite inteira seria só seu.
Não vejo a luz, só quero você,
você me disse que ainda crê.
Deliciosa, nua diante de mim,
quero tudo, tudo, até o fim.
Corpo lindo e prostituído,
é por ele que tenho caído.
Preciso mergulhar fundo,
esquecer agora do mundo.
Olhar detalhes e sentir o gosto,
do corpo, os cabelos e o rosto.
Saciar minha sede até amanhecer
e a vela inteira derreter.
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Força Sem Vontade
Descarrego o tambor de uma arma,
todos os dias em minha cabeça.
A semana inteira parece um carma.
não ouse faltar ou desobedeça.
Eu vou dançar em depressão,
minhas pegadas estão pelo chão.
Penso o contrário do que quero,
meus dias são todos morbidez.
Me destruo quando menos espero,
Nunca chegará a minha vez.
Meu espírito está mutilado,
Chego da interminável noitada.
Não há dia santo ou feriado
e a virgem não pode ser amada.
Sem explicar, ou implorar,
por um pouco de compaixão.
Vou tentar não acreditar,
minhas pegadas estão pelo chão.
Não vou me tornar pessimista,
Em vez de operário, sou um artista.
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Anormal
Aquele pesadelo foi uma teia,
mais me envolvia tentando sair.
Pessoas Silhuetas, a casa cheia,
Aumenta meu medo de dormir.
Está perto do despertador,
e a noite foi de terror.
O filtro de sonhos rasgou,
pegando no sono eu caio.
Não fui eu quem sonhou,
pulo da cama a saio.
A tensão dos infernos,
No lamaçal eu desmaio.
Ataque astral covarde,
Impelido por pura maldade.
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Vou Chorar Dessa Vez
Vou afundar em tanta melancolia,
minhas lágrimas, meu rosto.
A dor franca de agonia,
Violentado por tudo que é oposto.
O beijo de uma infiel,
eu sei de tudo, eu sei, eu sei.
A doçura estéril do mel,
eu simplesmente errei.
A vela derretida se refaz,
o sangue embeleza o corte.
Minha sombra segue e eu vou atrás,
a estrada acaba à própria sorte.
Se chorar ajuda a curar,
a dor franca de agonia.
Não sei por quem eu vou procurar,
Tudo alimenta a melancolia.
Os braços não se abrem ao abraço,
à noite nada me resta.
Pequenas fendas no meu braço,
a dor me espia por uma fresta.